quarta-feira, 15 de julho de 2009

Amo-te perdidamente e respeito-te o bastante para
não ousar talvez desejar que sejas atingido pelos mesmos
arrebatamentos. Matar-me-ia, ou morreria de dor sem me
matar, se soubesse que não tinhas descanso, que na tua
vida mais não há que perturbação e agitação de toda a
sorte, que choras sem cessar e que tudo te desgosta. Se já
não posso remediar os meus males, como poderia suportar
a dor que me dariam os teus e que me seriam mil vezes
mais dolorosos. (...)
Adeus, mais uma vez! Escrevo-te estas cartas longas
demais; não tenho suficienterespeito por ti, e disso te peço
perdão. E ouso esperar que usarás de alguma indulgência
para com um pobre insensato que o não era, como muito
bem sabes, antes de te amar. Adeus! Parece-me que falo
demais no estado deplorável em que me encontro.
No
entanto, do fundo do coração te agradeço o desespero
que me causas, e detesto a tranquilidade em que vivi antes
de te conhecer.
(ALCOFORADO, Sóror Mariana. CARTAS PORTUGUESAS.
(edição bilíngue; publicada pela primeira vez em francês, em 1669;
versão ao português por Nuno de Figueiredo). Lisboa: Europa-
América, 1974, pp. 37-51.

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